Fui sempre um crítico de Jorge Jesus, o que nunca me impediu de lhe reconhecer muitos dos seus indiscutíveis méritos. Mas não é sobre os seus méritos e deméritos que hoje pretendo aqui discorrer, sobre isso já muito escrevi. De só saber de futebol, de que resulta nem de futebol saber, da (in)capacidade de comunicação, da gestão do plantel, da capacidade de valorizar de jogadores, mas também de desvalorizar, das apostas bem sucedidas, mas também das que não passam de teimosia, da falta de senso e de equilíbrio – mais do que de humildade - que acaba em arrogância…
É para dizer que, ao contrário da opinião dos meus colegas benfiquistas deste blogue, há muito que entendo que o seu contrato não deve ser renovado. Começo por dizer que, sendo incomum, não é absurdo que um treinador que ganha tão pouco como Jesus ganhou tenha contado, quatro anos depois, com um apoio tão esmagadoramente maioritário. Esse apoio justifica-se, antes de tudo, pela História recente, marcada pela hecatombe por que o clube passou nos consulados de Manuel Damásio e Vale e Azevedo, que hipotecou duas décadas da vida do Benfica. E, depois, porque foi Jesus que devolveu o bom futebol ao Benfica, e com ele a aproximação ao Porto e a capacidade de fazer sonhar os benfiquistas. A ilusão de que o sucesso está próximo, de que para o ano é que é, é maior que as desilusões destes últimos três anos, e por isso lhe perdoam os erros que estão por trás dos sucessivos inêxitos.
Estou em crer que a decisão da renovação de Jesus, se exclusivamente baseada em critérios de racionalidade, teria de passar pela resposta a uma questão central. Que é a de saber se o patamar que o futebol do Benfica atingiu com Jorge Jesus, o mesmo que o Porto há muito atingiu, é obra exclusiva de Jorge Jesus. Se tudo o que tem envolvido o futebol do Benfica está nas mãos do treinador ou se, pelo contrário, corresponde ao desenvolvimento de uma estrutura que acompanhou, mas não se deixou substituir, antes se afirmou com Jesus.
Parece que a resposta seria clara: se este patamar é obra do treinador, é a prova que é indispensável. É verdade que não ganhou, mas se sair tudo terá que ser recomeçado do zero e, em vez de poder ganhar já para o ano, vamos ter de voltar a esperar – algo que não aconteceu com o próprio Jesus, que apenas ganhou no primeiro ano, mas que é opinião respeitável. Ao invés, se a resposta fosse contrária, se a estrutura do Benfica é capaz de manter o futebol da equipa neste patamar, a função de Jesus estaria cumprida e seria hora de mudar de treinador.
Sucede que se a estrutura do futebol do Benfica nada tem a ver com o crescimento do futebol, se todos os méritos são de Jesus, só pode ser incompetente. Não há treinadores que cubram uma estrutura incompetente… e não é Ferguson quem quer!
Claro que, depois de perdida também a Taça, é mais fácil não renovar com Jorge Jesus, e a maioria que ontem reclamava a renovação do contrato será hoje uma imensa minoria. E no entanto a exibição e a derrota da final da Taça não trouxe nada de novo para cima da mesa. Nada do que se passou foi novo… Foi uma equipa imatura, que não sabe controlar um jogo. Que, se não tem condições para o jogar em alto ritmo, já não o sabe jogar. Uma equipa mentalmente destruída, sem motivação, sem querer e sem crer E esse é outro dos pontos fracos de Jesus: o trabalho mental e motivacional. Não aprendeu, já não aprende!
Jesus não tem condições para continuar. Perdendo como perdeu, perdeu autoridade de continuar a dizer qual é o caminho para o futebol do Benfica. Se não resultou, quem acredita que venha a resultar?
Quem também chegou ao fim da linha é Cardozo. Pelo episódio que protagonizou no Jamor mas, para além disso, porque condiciona em demasia o jogo da equipa. Prende a equipa, bloqueia-a e limita-a. E não é jogador para ser suplente, entrar e resolver um jogo.
Tal como a Jesus, estamos agradecidos pelos seus préstimos. Mas é hora de virar a página!