Pablo Aimar, um dos mais fantásticos jogadores que passaram pelo Benfica e uma dos mais brilhantes estrelas da história do futebol, apresentou-nos ontem as suas despedidas. Escolheu a Benfica TV para o fazer… digamos que mais na intimidade. Hoje, todos os media difundiram a notícia, como quem tivesse espreitado pelo buraco da fechadura e agora desse conta do que viu!
Na hora do adeus quero agradecer-lhe por um dia ter escolhido o Benfica. Por ter decido dizer sim quando Rui Costa, chegada a hora de despir a sua camisola 10, que usou bem menos vezes do que todos desejaríamos, olhou para o mundo e não viu ninguém a quem melhor a pudesse confiar. Por ter sabido guardar e honrar durante cinco anos aquela mítica camisola 10, que foi de Rui Costa, que foi de Eusébio, mas também de Mário Coluna.
Vai partir sem ter a quem a entregar. Sem poder fazer como Rui Costa, sem passar esse testemunho de glória. É também isso que nos aumenta o sentimento de perda - perdemos o Aimar e, com ele, perdemos o 10!
É certo que o futebol já não é o que era, foi perdendo romantismo e com ele foi perdendo esse espaço de magia que só um 10, e um 10 como Aimar, guarda e transporta no tempo. Vive, hoje, de seis e de oitos, de compensações e de cavalgadas. De roubar espaços e de queimar etapas e tempos. Espaço e tempo, precisamente o ar que o 10 respira…
Aimar é um dos grandes jogadores deste início de século. Tão grande que se tornou, ele próprio, no ídolo de grandes ídolos - é Messi quem o confirma! Mas é também um ser humano de enormíssima dimensão: educado, sereno, elegante, disciplinado, correcto…
Tudo nele, jogador e homem, é de referência. É também isso que nos aumenta já a saudade mas, mais, bem mais que a saudade que já sentimos, é também isso que nos aumenta o sentimento de injustiça de que foi vítima neste último ano. De que se não queixa – nunca ninguém foi tão elegante na hora da despedida - mas que existiu!
No final da época passada, Aimar poderia ter saído, ainda a tempo de garantir um bom contrato num qualquer canto arábico do planeta. Ficou, não sei se muito ou pouco obrigado a isso. Sei é que ficou, e se ficou é porque o clube entendeu que era importante que ficasse. E porque também ele entendeu que tinha uma contribuição a dar para os objectivos do clube!
Não foi nada disso, e aí está mais um dos grandes erros de Jorge Jesus na época que há pouco acabou, mergulhada em frustração. Nesta época de despedida, Jesus não deixou apenas de contar com Aimar. Fez pior: fez-lhe o que não se faz a ninguém, mas que, feito a Aimar, é pecado imperdoável. Não lhe dando ritmo de jogo, impediu-lhe o rendimento ajustado à sua categoria, e isso penalizou e pôs em causa o sucesso da equipa. Colocando-o em campo sistematicamente nos cinco minutos finais - e no último jogo, na final da taça, com a equipa derrotada e abatida - não o respeitou. Não lhe atingiu a dignidade nem a imagem porque, nele, são grandes demais. Mas não se faz!
Nem o Aimar merecia despedir-se do Benfica com uma época destas, nem o Benfica merecia esta mancha na despedida a Aimar. E, no entanto, ele desfez-se em agradecimentos e em simpatia. Disse terem sido estes os cinco anos mais felizes da sua vida. Glorificou a grandeza do Benfica. Enalteceu a beleza do estádio, o melhor em que jogou. Exaltou a paixão única dos adeptos, como nunca tinha visto. Agradeceu-lhes o carinho, o carinho de sempre e o carinho adiantado. Esse carinho que recebeu à chegada, à cabeça, antes de dar o que quer que fosse…
Obrigado Pablito!