É certo que voltou a haver erros de arbitragem. Que, no golo do Belenenses, um jogador em fora de jogo posicional interveio (para Jorge Jesus interviu) no desenrolar da jogada, movimentou-se no sentido de disputar a bola. Que o Cardozo voltou a ser agarrado dentro da área, e impedido de disputar uma bola com o guarda-redes, e que isso é penalti. Tão certo como tudo isso é que nem o Artur defenderia a bola se o jogador do Belenenses lá não estivesse à sua frente, nem o Cardozo chegaria alguma vez à bola que foi impedido de disputar. Mas isso não muda nada!
É verdade que é quando as equipas não estão a jogar nada – como acontece com o Benfica e com o Porto – que os erros de arbitragem são mais decisivos. A jogar de acordo com o potencial que tem, o Benfica tem a obrigação de ganhar mesmo se prejudicado pela arbitragem. Enquanto lá não chegar tudo conta, e a verdade é que o Benfica hoje não ganhou um jogo que, sem esses erros, ganharia. Como o Porto ontem ganhou um jogo que, sem o erro que existiu, não ganharia.
É verdade que a coisa existe. Anda aí, está tão viva quanto sempre esteve ao longo das três últimas décadas!
Dito isto há no entanto que dizer que, do melhor plantel dos últimos 30 anos, o Benfica não consegue fazer uma equipa que jogue futebol. Jorge Jesus apenas se cruzou com o êxito no primeiro destes quatro anos que já leva de Benfica, mas em todos os outros conseguiu que a equipa apresentasse bom futebol. Muito bom, do melhor que por cá se tinha visto, no primeiro ano, mas também muito bom em boa parte das duas épocas seguintes. Isto é unanimemente reconhecido: não deu grandes resultados – é certo – mas percebia-se porquê. Por deficiente gestão do plantel - pela utilização com pouco critério dos jogadores, deixando que se esgotassem até ficarem nas lonas – e por óbvias limitações na gestão motivacional da equipa. Claro que a coisa, sempre que necessário, também fez das suas!
Falar do futebol do Benfica de Jorge Jesus, era falar de transições rápidas, de avalanche ofensiva, de rolo compressor, tão frenético que muitas vezes provocava tantos desequilíbrios na própria equipa quanto na adversária. Era a tal nota artística, a expressão que ele próprio introduziu no léxico do futebolês!
Neste quarto ano tudo isso desapareceu, e hoje a equipa não consegue acertar três passes seguidos, não engata uma transição, não ganha um duelo e não consegue partir para cima do adversário. Jogadores de grande classe parecem que não sabem jogar à bola. O Markovic, que começou por encantar, que rasgava pelo centro do campo e só parava na baliza adversária, acabou por desaprecer,agarrado à linha. O Matic, o 8 que Jesus reclama ter transformado num dos melhores 6 do mundo, já não é nem 8 nem 6. Até o Enzo, que da linha veio para o meio, para agora regressar à linha, e mesmo aí carregar a equipa às costas, acabou por desistir…
Tudo isto era previsível. Tudo isto estava à frente do olhos… Sabia-se o que tinha falhado, conheciam-se os pontos fortes e os fracos. Tinha dado para perceber que aqueles pontos fortes não eram suficientes para ganhar. E que, quando já nada há para subir, só resta descer. Não era o fundo, aquilo que em Maio se viu no Jamor. Ali penas se via que já não havia nada para subir...
O que antes era difícil é, agora, depois de Guimarães - que não é a causa de coisa nenhuma, mas a consequência de muita coisa -, impossível de esconder. E não adianta continuar a procurar tapar o sol com a peneira!