Um fado com final feliz
A selecção nacional está apurada para o Brasil. Tarde, mais tarde do que a sua valia colectiva merecia, mas dentro daquilo que é o nosso fado. Um fado onde cabem velhas crenças, mas também velhas estórias. Uma delas é a do cântaro, da fonte, e da asa que alguma vez lá haverá de ficar…
Não foi ainda desta vez que lá ficou. Não poderia mesmo ser desta vez: porque não há asa que se quebre quando no cântaro está um génio; e porque a selecção da Suécia vale bem menos do que o que se anunciava, e bem menos do que se temia.
No cântaro, como se fosse lâmpada, estava o génio de Cristiano Ronaldo. Que fez, de longe, o melhor jogo de sempre pela selecção nacional e certamente um dos melhores jogos da sua já longa e sempre brilhante carreira. Hoje em dia só não é o melhor do mundo porque não é deste mundo!
Defendi frequentemente no passado que Cristiano Ronaldo era o melhor jogador do mundo. Que Messi não era deste mundo, e não era por isso comparável. Hoje é claramente o português que não é deste mundo, e é injusta para Messi e Ribery a discussão que por aí corre, como desigual e injusto foi o duelo para que convocaram Ibrahimovic, apesar da forma digna e capaz com que hoje, na segunda parte, se apresentou. A mostrar claramente que a selecção sueca é ele próprio, que para além dele é o deserto.
Por isso se percebeu hoje que o jogo retraído e ultra defensivo de Lisboa não fora estratégia. Que é mesmo assim, que pura e simplesmente a selecção sueca não tem mais (futebol) para dar.
É certo que chegou a assustar, quando a vinte minutos do fim estava a um golo do apuramento e galvanizada pela reviravolta no resultado. Sol de pouca dura, porque neste jogo de grande emoção e muito bem disputado, a selecção nacional foi tudo o que foi nesta fase de apuramento. E sendo tudo isso, já fora até aquela altura tudo o que de mau tinha sido!
A selecção nacional parece ter querido fazer deste decisivo jogo do play-off um espelho do seu desempenho durante o torneio de apuramento. Começou o jogo com a displicência e a falta de dinâmica dos jogos em casa com a Irlanda e com Israel, numa apatia confrangedora que aquele episódio de Pepe parado, com a bola também parada durante largos segundos, tão bem ilustra. Depois de perceber que o adversário estava ali apenas para defender, passou a jogar à bola e a dominar de forma inconsequente o jogo, como fizera em Moscovo, no único jogo que perdeu. No início da segunda parte fez o golo e logo se acomodou, como fizera nos jogos com Israel, com idêntico resultado. Viu-se de repente na eminência de perder o apuramento, com toda a pressão do jogo. E aí, quando tudo aperta, ressurgiu no seu maior esplendor. E não foi só com Cristiano Ronaldo, embora tenha sido ele o comandante. Foi com muitos outros e com muito Moutinho...
Gostamos disto. Gostamos de sofrer até ao fim, achamos que a vitória assim tem mais sabor. Não é estratégia, não é o nosso modelo, a nossa maneira de fazer as coisas. É o nosso fado!