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26
Mai12

Futebolês#128 Modelo de jogo*

Eduardo Louro


 

Por muito que o segredo seja a alma do negócio – regra que no futebol vale mais que em qualquer outro lado -, que a surpresa – o tão valorizado factor surpresa – seja tantas vezes um dos grandes desequilibradores de jogo, a verdade é que lá está sempre o modelo de jogo como forma de sistematizar a abordagem do dito.

modelo de jogo não se esgota na estratégia, e muito menos na táctica escolhida para cada jogo. Quer isto dizer que o modelo de jogo é algo de mais profundo, é aquilo que vai para além da estratégia e da táctica. Porque é a forma como se faz, como se executa uma determinada estratégia. Traduz-se numaideia de jogo ou, mais do que isso, numa filosofia para o próprio jogo.

É, nessa medida, a matriz, o lado institucional e estrutural do jogo. Sem modelo de jogo a equipa anda à deriva, sem guião. Pode saber o que quer fazer, mas não sabe como fazer. Sem noção de colectivo, com cada jogador por si, perdido num colectivo que não comunica, sem fio condutor…

È por isso o lado do jogo que não permite surpresas nem guarda segredos. O mais famoso – e também o mais bem afinado – modelo de jogo é, sem dúvida, o do Barcelona. É tão óbvio que nem vale a penas gastar mais uma linha a justificá-lo!

A selecção nacional, que em breve irá dar o pontapé de saída no euro 2012, tem um modelo de jogo. Que há muito tempo está definido e instalado, e que só em momentos de desvario – que não têm sido assim tão poucos como isso, basta lembrarmo-nos do período de desnorte de Carlos Queiroz – é esquecido. Tem a ver com o próprio perfil do jogador português, de base mais técnica que física. É um modelo de passe curto, de posse de bola e de repentismo, de pensamento e de execução rápida.

Daí Hugo Viana. Que tinha feito uma boa época no Braga, onde foi decisivo naquele modelo de jogo e que, só por isso, mereceria, na óptica de muitos dos adeptos do futebol – e aqui sem clubismos que invariavelmente cegam e turvam a lucidez da análise -, a convocação para o europeu. Merecimento que teria de ser visto precisamente como um prémio ao seu desempenho durante a época!

Paulo Bento justificou, logo na apresentação das suas opções de convocatória, que Hugo Viana não cabia no modelo de jogo da selecção. E, friamente, toda a gente teria de lhe dar razão: Hugo Viana não se integra nomodelo do passe curto e de posse da bola, do drible e da velocidade, com bola ou em desmarcação. Pelo contrário, faz da visão e da precisão do passe longo a sua grande vantagem comparativa!

Acontece aos melhores. São muitos os exemplos de jogadores de excelência que se não integram em determinados modelos de jogo. Lembramo-nos de Ibrahimovic, que não cabia claramente no modelo do Barcelona!

Claro que há jogadores que, por si só, impõem a definição de um modelo de jogo ajustado às suas características. Mas, para isso, terão que ser eles próprios maiores que a equipa. E umas vezes não o são e, outras, é a equipa que não permite que o sejam. Lembremo-nos de Jardel que, sendo nos seus tempos áureos o fabuloso goleador que o mundo conheceu, nunca teve oportunidade de jogar numa grande equipa europeia e mundial, nem de chegar à selecção do seu país.

É por tudo isto que a convocação de Hugo Viana, logo que a oportunidade surgiu, é estranha. Não pelas suas qualidades, nem sequer porque, na tal lógica de prémio, não o merecesse. Apenas porque o modelo de jogo da selecção, ao que se saiba, não vai ser alterado. E porque não fazem sentido nenhum as suas próprias palavras, segundo as quais se iria esforçar para se adaptar ao jogo da selecção!

Assim sendo, não fazendo sentido, só resta admitir que a sua convocação se deve a factores externos ao processo de decisão do seleccionador. Que não terá resistido às pressões que sofreu para o convocar!

Se o que parece é, estaremos perante o colapso de um dos principais pilares do edifício de Paulo Bento. E sabe-se como é: quando um pilar cede, os restantes não são suficientes para manter a coisa de pé.

E por falar em pé, o mais provável é que Hugo Viana não o chegue a pôr nos relvados da Ucrânia. Se assim for esperemos que o lugar que está a ocupar entre os 23 não venha fazer falta nenhuma. Que nunca nos lembremos que só lá está um lateral esquerdo... Porque o Miguel Veloso tem mais vocação para modelo (e não é de jogo) que para lateral esquerdo!

 

* Rubrica semanal no Quinta Emenda

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