Comunicação por encomenda
Uma das variantes por que a máquina portista – a célebre estrutura – é exaltada é pela comunicação. Desde o célebre e já decadente sarcasmo e a velha ironia dita arguta de Pinto da Costa, passando pelas mais variadas formas de pressão sobre a comunicação social, incluindo a agressão física, pela gestão dos tempos de comunicação, incluindo os famosos blackouts, até á distribuição e ocupação dos espaço mediático da opinião e do comentário.
Peça chave no processo é o famigerado Director de Comunicação, Rui Cerqueira, que é uma espécie de pau para toda a obra. Dá para tudo e presta-se a tudo, como se tem visto…
A conferência de imprensa de Lopetegui – a peça nova da máquina que chega a meter dó – no final do jogo de ontem com o Paços Ferreira veio mais uma vez mostrar como, por ali, se fazem as coisas. Não há limites e é pouco menos que assustador!
Tive o azar de a seguir através da RTP Informação que, espanto dos espantos, a transmitiu via Porto Canal. Exactamente, no canto superior do ecrã lá estava a identificação da estação que sem que o seja é o canal do clube – ou que nuns momentos é e noutros deixa de ser – e no rodapé lá informava da “transmissão em simultâneo com o Porto Canal”. Mas isso foi apenas o início do susto. Depois, deu para ver que o tal Rui Cerqueira chamava pelo nome próprio cada um dos interpelantes que, convidados dessa forma a colocar a sua questão, não precisavam de se identificar, ao contrário do é norma e uso em qualquer outro lado. E depois lá surgiam as pertinentes e objectivas questões dos jornalistas convidados. Perguntas - que não são perguntas - ora laudatórias ora encomendadas para respostas preparadas e postas na ponta da língua do treinador no papel de mete dó. Para não dizer outra coisa…
Se a pergunta – que não era pergunta – sobre o treinador que disse que os adversários têm de olhar para cima, para que fosse buscar as competições europeias, e o afastamento do Benfica, ainda tem alguma ponta por onde se pegue, já a pergunta – que não era pergunta – de um tal Miguel sobre uma antiga afirmação do treinador Manuel José, na qualidade de comentador, é verdadeiramente emblemática.
Há tempos, a propósito do plantel do Porto, o Manuel José disse que no ano passado, ao Paulo Fonseca tinha sido dado carapau e, este ano, ao Lopetegui tinha sido dada lagosta. Mais de três meses depois, o director de comunicação do Porto achou que devia encomendar esta pergunta para pôr Lopetegui, depois de trocar carapaus por tremoços, a bater no treinador agora comentador, falando de um campeonato, em 1995, em que Manuel José teria ficado a 25 pontos do Porto…