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Dia de Clássico

Visto da bancada Sul

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21
Mai17

Festa, saber e raça

Eduardo Louro

Boavista fala em uso desadequado de bilhetes destinados aos seus adeptos

 

 O Benfica levou a festa do tetra ao Porto, que também a merece. O pretexto foi a disputa do último jogo do campeonato, com o Boavista.

Que seria sempre um jogo de festa, mas também um jogo cheio de pontos de interesse. Desde logo porque Rui Vitória, e muito bem, porque é assim que se gerem recursos humanos, e é assim que se constrói a coesão da equipa, quis que todos os jogadores do plantel se sentissem campeões. Mais do que fazê-los campeões, Rui Vitória quis que se sentissem campeões. 

Por isso apresentou um onze que não repetia nenhum dos titulares dos últimos jogos, promovendo logo de início a estreia de três dos quatro jogadores que ainda não tinham participado no campeonato - os júniores Kalaica e Pedro Pereira, central e lateral direito, e Hermes. Paulo Lopes ficava no banco, para entrar com a mística debaixo do braço, lá mais para a frente, quando fosse necessário. Claro que a qualidade de jogo da equipa teria de se ressentir. As rotinas não estavam lá, e a equipa não podia apresentar o entrosamento que normalmente exibe. Mesmo assim, na segunda parte já nem se deu muito por isso e, com a troca de Hermes por Rafa, logo ao intervalo, a qualidade de jogo subiu e a superioridade do Benfica passou a ser notória. E evidente.

O próprio desenrolar do jogo viria a acrescentar novos pontos de interesse. Vários. A começar pelo golo do Boavista, logo no final do primeiro quarto de hora, na primeira oportunidade de golo do jogo. Como nunca, ao logo de todo o campeonato, o Benfica tinha virado um resultado, nunca ganhara qualquer jogo em que tivesse sofrido o primeiro golo, ficava lançada a expectativa de, no último jogo, quebrar esse enguiço. Depois, num campeonato de evidente superioridade competitiva, o Benfica não conseguira ganhar a nenhum dos adversários que tinham empatado na Luz. E o Boavista era um desses três adversários (os outros tinham sido o Setúbal e o Porto), naquele escandaloso empate a três.  

Por aí, ficamos conversados. Esses são dois enguiços que ficam a marcar este campeonato do tetra.

Havia mais dois pontos de interesse, também paralelos, como aqueles dois. O jogo teria de dizer alguma coisa sobre André Horta e Zivkovic, desaparecidos na bancada parte final da época. E o jogo foi claro, a esse respeito. Tão claro que começou por explicar que não são assim tão paralelos, quando se viu André Horta pegar logo no jogo. Tão claro que ficou claro que, mesmo sendo o melhor há, mais para a frente, Rafa. E, mais para trás, Pizzi. Por muito que gostemos - e gostamos - daquele que é um de nós lá dentro... 

Também foi claro na resposta que nos deu sobre Zivkovic: a jogar assim, está explicado. O que o jogo não pôde explicar é do domínio metafísico, é a questão do ovo e da galinha, uma velha inquietação da humanidade. Zivkovic passou a ir para a bancada porque está assim? Ou está assim porque passou a ir para a bancada?

Mas este jogo do Bessa que fechou o campeonato não se limitou a responder as estes pontos de interesse. Mostrou muito mais, e teve muitos outros pontos de interesse. Mostrou um Boavista interessante e a jogar bem à bola, coisa que nem faz parte dos hábitos da casa. Com jogadores interessantes, um deles muito interessante mesmo. Não é da casa, mas está lá, e deu cabo da cabeça à inovada defesa do Benfica. Que o digam Eliseu e Lizandro. Hoje pintou a manta, mas já na Luz o Iuri Medeiros tinha feito das suas. E já no ano passado, no Moreirense.  

E mostrou a raça do campeão. O Boavista, que marcara na primeira oportunidade que criara, voltaria a marcar na segunda, aos 7 minutos da segunda parte, precisamente quando o Benfica tinha tomado conta do jogo. Quando já só se defendia como podia. 

Mesmo sentindo o golo, e percebeu-se como os jogadores o sentiram, o Benfica reagiu. Chegaria ao golo vinte minutos depois, já com Jimenez em campo, no lugar de Fillpe Augusto, numa jogada típica do Rafa, que levou a bola até a entregar a Mitroglou para, já dentro da área, rematar cruzado para a baliza. Logo a seguir, a terceira substituição, para ganhar o jogo: entrou Paulo Lopes, para o lugar do Júlio César, que sofrera dois golos, sem ter feito uma únca defesa.

Levou a mística lá para dentro, para que, à beirinha do minuto 90, um miúdo que já não engana ninguém, o novo Lindelof que se chama Kalaica, ainda júnior, na estreia, fazer o empate. E a festa. Grande. E merecida. No fim, do fim do campeonato deste incrível tetra!

 

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