Não dá para entender
Acabado de chegar ao primeiro lugar, isolado no topo da classificação quando o campeonato dá a volta, o Benfica abre mão do seu mais influente jogador, considerado pela crítica o melhor jogador do último campeonato onde, entre outros, pontificavam valores como Moutinho, James, Jackson, Gaitan, Cardozo, Enzo Perez… E, diz-se – o que vale o que vale (que expressão irritante!), porque o que no Benfica nunca falta, com o mercado aberto ou fechado, tanto faz, é notícias de jogadores a chegar e a partir - na calha de saída estarão ainda Rodrigo, Garay e até Gaitan…
Não dá para entender!
Não dá para entender que, depois de um início de época traumatizante, mesmo miserável, quando a equipa atinge estabilidade emocional e competitiva, e chega ao primeiro lugar, de que durante tanto tempo esteve distante, se deite tudo abaixo. Não dá para entender que, quando se entra numa fase decisiva de um campeonato que não pode deixar de ser ganho, quando a equipa acaba de dar um golpe profundo nas aspirações do seu principal rival, deixando-o estendido no tapete, em vez de forçar o KO lhe vá entregar de bandeja os espinafres do Popey.
Não dá para entender que o melhor e o mais influente jogador da equipa seja vendido por metade da cláusula de rescisão. Embora se perceba que, quando o presidente do Benfica anuncia que precisa de vender, está exactamente a expor-se a isso mesmo: a vender em saldos. E então não daria para entender que um negociante experimentado e de sucesso, como é o presidente do Benfica, desse tal tiro no pé, que se expusesse da forma que o fez. Embora se perceba que o tenha feito para defender a pele. Quando LFV anunciou que teria de vender não ignorava que isso fragilizava a posição negocial do Benfica, simplesmente falou mais alto a necessidade de se proteger a si próprio!
E aqui está o grande problema do Benfica. Um problema de liderança, que não é de facto o ponto forte de LFV: um líder forte e consistente, sem flancos desprotegidos ou sem telhas de vidro, toma as decisões que tem de tomar, pondo as convicções em primeiro lugar, nunca outras preocupações. Se o Benfica tinha de vender jogadores para responder às suas responsabilidades financeiras, a LFV competia optimizar esses negócios, mesmo que em contra-mão com a popularidade. Só que, para isso, não poderia ter dito que não vendera no mercado do Verão para construir uma equipa capaz de ganhar tudo, e de sonhar com a final da Champions na Luz, quando era claro que, simplesmente, do mercado não chegara qualquer proposta minimamente aceitável para qualquer jogador.
Como não pode dizer que a necessidade de vender decorre do afastamento do Champions que, mesmo desconhecendo o que representaria no budget para esta época, não poderá representar um prejuízo superior a 7 ou 8 milhões de euros. Que, como toda a gente percebe, nada têm a ver com, sequer, a venda de Matic.
É por tudo isto não dar para entender que dá para entender que todos os jornais façam hoje eco da mágoa de Vieria com Matic… Mesmo que, mais uma vez, não dê para entender que recorra à pressão do sérvio para justificar a sua venda. Nesta altura, por metade do valor da cláusula de rescisão contratualizada, pondo em risco a conquista do campeonato e correndo o risco de oferecer mais um tetra ao Porto. Pela primeira vez um tetra todo ele oferecido por LFV, laçarotes incluídos!